sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Violência doméstica contra mulheres: uma realizade silenciosa

OBS: matéria publicada na revista Radar em 2009.

Mesmo diante de tantas lutas e conquistas, mulheres em todo o mundo ainda continuam sofrendo com um grande mal: a violência doméstica. Agressões físicas e verbais, feitas pelos próprios companheiros. A cada ano, as estatísticas mostram que é crescente o número de mulheres vítimas de agressões . Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada cinco brasileiras já sofreu algum tipo de violência por parte de um homem. Outro dado assustador, revela que a cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil.

Dentre as formas de violência mais comuns destacam-se a agressão física branda, sob forma de tapas e empurrões, sofrida por 20% das mulheres; a violência psíquica e xingamentos, com ofensa à conduta moral da mulher, vivida por 18%, e a ameaça através de coisas quebradas, roupas rasgadas, objetos atirados e outras formas indiretas da agressão, vivida por 15%.

A responsabilidade do marido ou parceiro como principal agressor varia entre 53% e 70% das ocorrências de violência, em qualquer das modalidades investigadas, excetuando-se o assédio. Outros agressores, comumente citados, são o ex-marido, o ex-companheiro e o ex-namorado, que somados ao marido ou parceiro constituem sólida maioria em todos os casos. Neste contexto, mais da metade das mulheres não pedem ajuda e apenas 57% das mulheres brasileiras nunca sofreu qualquer tipo de violência por parte de algum homem.

Respeito entre os sexos
Para a responsável pela Delegacia da Mulher de Lajeado, Márcia Scherer, as agressões contra a mulher deixará de existir no momento em que houver respeito mútuo entre os sexos. "A violência contra a mulher sempre vai existir, enquanto homens e mulheres não forem educados para o mútuo respeito, para a parceria um com o outro", destacou Márcia. Princípios fundamentais para um bom relacionamento, respeito e companheirismo partem de algo pouco disseminado no país, que é a educação em todos os sentidos da palavra.

Em alguns casos, segundo a delegada, as mulheres acabam fomentando essas agressões, pela necessidade desabafar os problemas rotineiros, no momento em que o homem está descansando. Porém, nada justifica a violência, principalmente a agressão física. "Esta é uma maneira que eles têm de calar uma mulher. Pois, este é um momento que ela desafia a autoridade masculina, chamando para uma conversa", ponderou a delegada. Como na maioria dos casos de violência contra a mulher, a autoridade masculina não é receptível para o diálogo, não foi educado para tanto e se chega ao extremo.

Agressão verbal
"Na verdade, a violência física é um estágio adiante da violência verbal", pondera a delegada. Para ela, quando existe a violência verbal, há um ambiente de muito machismo. A mulher pode perceber, nesta agressividade verbal, a falta de respeito para com ela. Pois, este homem acaba desaforando a mulher em frente à desconhecidos, sem o mínimo de limite e consideração.

"Este é um homem que não considera aquela mulher, não a respeita. Para ele, aquela mulher é um ser inferior. Absoluto machismo", acrescentou. As pessoas resolvem seus problemas no diálogo e no respeito. Agora, quando a raiva se alia a falta de consideração por aquela mulher, a importância dessa mulher é minimizada. Momento no qual, ocorrem as cenas mais deprimentes de violência contra a mulher.

Em geral, as representantes do sexo feminino não reagem por causa da educação que receberam. O ensinamento de que "o casamento é assim mesmo e para vida toda, que mulher nasceu para sofrer e chorar". "A mulher não se impõe contra essa violência, não chama esse marido para a conversa, porque isto significa tomar uma atitude", explicou a delegada. Ao invés disso, começa a sofrer todas essas doenças psico-somáticas.

Segundo Márcia, cerca de 80% das pessoas que utilizam os atendimentos públicos de saúde são mulheres, na verdade, buscando em um local errado a solução para os problemas pessoais. "A mulher não tem coragem de resolver pela forma adequada. A violência, a insatisfação no casamento, toda uma série de problemas acabam refletindo na saúde, que, na realidade, passa por em resolução consigo", explica Márcia.

Consciência da liberdade
Segundo Márcia, passamos por um momento cultural em que nada mais é obrigatório, as pessoas podem decidir sobre o que querem de suas vidas. "Porque não temos mais aquelas amarras preconceituosas e culturais. Embora, estejam extremamente presentes ainda", avaliou.

Este espaço democrático que permite as mulheres pintarem o rosto e vestirem-se do jeito que quiserem. "Mais da metade da população não vive isso. A áfrica não vive isso, a Ásia ou Índia. Nós vivemos a liberdade", ressaltou. Nestes países, homens e mulheres se comportam dentro de uma cultura milenar, de uma religião que determina o comportamento a seguir.

Para a delegada, "a liberdade pressupõe pessoas inteligentes, para que saibam decidir sobre a forma mais correta possível sobre todos os aspectos de sua vida. A mulher passa a escolher o momento em que vai manter sua primeira relação sexual e com quem, se casa ou não. A partir do momento que a pessoa possui liberdade, as decisões para consigo têm que ser mais sérias, porque ninguém irá decidir por ela ou responder pelas conseqüências. Assim, não será a religião ou outro fator que determinará as atitudes das pessoas".

Para lidar com esta livre possibilidade de escolha, a pessoa necessitará manter uma constante busca de informações, para poder discernir o que é melhor para ela. "As pessoas não devem ficar, mas sim, buscar informações buscar informações nos mais diversos meios", finalizou.

Refúgio
Para acolher as mulheres vítimas de violência doméstica do Vale do Taquari, como também seus filhos menores, que estão com a vida em perigo, existe a Associação Casa de Passagem do Vale. A entidade, fundada em dezembro de 1998, é mantida por meio de doações da comunidade e do convênio com 11 municípios. São eles: Lajeado, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Teutônia, Fazenda Vilanova, Bom Retiro do Sul, Nova Bréscia, Muçum, Capitão, Progresso e Imigrante.

A sede da Associação não tem seu endereço divulgado, em função do sigilo necessário para manter a segurança das vítimas. Para ser atendida na Casa, a vítima deve registrar ocorrência policial ou ser encaminhada pela Justiça ou Ministério Público. Na Casa de Passagem, a mulher é atendida pela assistente social e pela psicóloga, ambas voluntárias. Na sua estadia na Casa, colabora com a preparação das refeições e limpeza do prédio. As crianças recebem atendimento pedagógico e as mulheres fazem trabalhos manuais.

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