sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Paixão sem limites pelos animais

OBS: matéria publicada na revista Radar em 2009.

Socorrendo um cachorro envenenado, foi assim que encontramos Neide Schwarz, a presidente da Associação Protetora dos Animais de Teutônia (Apante). Segundo ela, não sabe de onde vem esta paixão pelos animais e que desde sempre possui esta vontade de acolher os bichinhos. Atuando de forma voluntária, na maioria das vezes acaba utilizando recursos próprios como seu veículo, para levar os animais ao veterinário. Já que a associação não possui sede, veículo e nem muitos recursos.

Nego, o cachorro socorrido na manhã da quarta-feira, dia 19 de agosto, pertence a Ivanir Costa da Silva, do Bairro Canabarro, em Teutônia. Ela percebeu que seu cachorro não estava normal e acionou Neide, que levou o animal a um profissional. Quem atendeu o bichinho foram os veterinários Marcelo Gotze e a Daniela Markus. Ambos recebem de forma especial os animais trazidos pela presidente da associação. Os dois veterinários cuidaram do Nego, que escapou desta por pouco. A proprietária acredita que alguém tenha lhe dado veneno de propósito.

No dia em que encontramos Neide socorrendo o Nego, também conhecemos a Menina, que integra o grupo chamado por ela de “Os Três Mosqueteiros”. São eles: a Menina, o Grandão e o Pequeno. Três cachorros de rua que firmaram um lar em uma construção ainda não acabada no Bairro Languiru, em Teutônia. Segundo a presidente da Apante, existem pessoas voluntárias, Lovane que trabalho no Raio-X do hospital Ouro Branco e Guisela que trabalha na creche Girasol, que se revezam na ajuda aos Três Mosqueteiros, colocando ração e comida para eles, cedidas algumas vezes por ela mesma.

Em setembro do ano passado, que Neide ficou sabendo destes cachorros, logo depois a Menina ganhou nove filhotes. Um deles morreu no parto e outro foi atropelado, os demais foram todos doados. No sábado, dia 14 de agosto, conseguiu com que a Menina fosse castrada. “Gostaria que pelo menos as pessoas se disponibilizassem para cuidar dos cães, castrados ou que realizaram outro tipo de operação e são de rua, no pós-operatório. Pois, por enquanto não temos espaço o suficiente para abrigar muitos cachorros. Assim, poderíamos atender mais animais”, destacou Marcelo.

Agora, a intenção deles é encontrar um lar para a Menina. Elogios é o que não faltam ao animal. “Nunca vi um animal tão esperto, obediente e carinhoso. A Manina não incomoda, ela é bem ativa e gosta de brincar”, destacou o veterinário Marcelo. Segundo ele, é importante que a cachorra encontre um lar, com pessoas que cuidem e dêem carinho. Depois de recuperada da operação, Menina voltou a morar na rua com os companheiros.

Paixão
Em casa Neide abriga três cachorros. Um deles encontrado na rua abandonado e adotado pela família, que é a Linda de três anos. A Tuca de 11 anos, que pertencia a outra pessoa e passou a ser cuidada por ela. A única comprada é a Taigra também de três anos, que é uma pitbull. Na casa da mãe, que é um sítio, são cerca de sete cães. Destes, apenas dois não são de rua. “As vezes eu chego lá, meus pais dizem ‘de novo com cachorro’, mas insisto um pouco e eles acabam ficando”, pontuou.

Conforme ela relata, a Linda foi retirada da rua com a intenção de ser recuperada e doada para alguém. “Ela tem uma história muito triste, pois foi estuprada por um ser humano. Me apaguei muito e acabei ficando ela”, relatou. A bondade e a vontade de cuidar dos animais transparece nos olhos, nas palavras e nos gestos de Neide. Primeiro, por ver os olhos dela brilhar ao falar dos animais que conseguiu salvar ou dar um lar. Depois, nas atitudes, de realmente fazer algo pelos bichos abandonados.

“Deus enviou os animais para a terra, para ensinar o que é fidelidade. É isso que eu vejo, porque o primeiro a me enxergar quando chego em casa é o meu cachorro. Acredito que com o passar do tempo, a maioria das pessoas vão ter este sentimento. Tem pessoas que pensam que bicho é bicho. Só que o bichinho tem que ser respeitado, porque todo o ser que tem um coração sente fome, frio e medo”, ressaltou. Ela recorda das histórias que aparecem na mídia de cachorros que salvam seus donos, ou mesmo, de bichinhos que adotam filhotes de outras espécies para amamentar os que são abandonados ou separados de suas mães. Para ela, existem coisas que os seres humanos não fazem pelo próximo que os bichos fazem.

Zé Bob
Os animais surgem na vida de Neide de diversas formas, como na história do cachorro Zé Bob. Ele foi encontrado em um sábado de meio dia, quando a presidente da Apante e uma colega de trabalho quando iam para Linha Harmonia realizar um serviço. “Quando chegamos defronte ao posto da Polícia Rodoviária Estadual vimos um cachorro caminhando no asfalto. Parei e a pedi que a Carol chama-se ele, e que se o cachorro entrasse no carro nos levaríamos ele embora”, contou. E, ele entrou no carro.

Enquanto que a loja onde trabalha possuía sede no bairro Languiru, o cachorro possuía um local para ficar. No momento, em que mudou-se para o Bairro Canabarro, ela teve que procurar um lar para Zé Bob. Foi então que a colega de trabalho Carol Cardozo dos Santos pediu permissão e o levou para casa. “Parece que o cachorro de rua te dá mais carinho, que aquele que a gente cria desde pequeno. Não consigo viver sem ele, como também toda a minha família”, contou Carol.

O Lobo
O lobo também foi acolhido com o intuito de ser solto no dia seguinte, mas acabou ficando para fazer parte da família. “Ele estava deitado na esquina da minha casa, peguei no colo e coloquei na minha garagem. Pensando em soltar ele no outro dia”, contou Neide. Foi nesta época que ela conheceu a Apante, pois ligou para associação para tentar doar o cachorro. A partir daí, os demais integrantes da instituição passaram a acioná-la para resolver alguns casos que ocorriam no Bairro Canabarro.

“Com o lobo fazia caminhada com ele solto e a minha Taigra no enforcador. Comecei a levar ele junto, pois ele conhecia o Bairro Canabarro inteiro. Até que um dia ele comeu veneno, próxima a Vila Esperança, durante essas caminhadas”, relatou Neide. Ela acredita que ele tenha ingerido o produto que estava junto a um gato morto que tinha no local. “No momento, ele começou a ter ânsia de vômito e na hora não sabia o que estava acontecendo, porque não tinha visto um cachorro envenenado”, pontuou ela.

Segundo a presidente da Apante, o cachorro ainda a acompanhou até na esquina de sua residência, onde ficou parado por um tempo e depois foi embora. “Procurei por ele durante uns três meses. Todo domingo de manhã que podia caminhar um pouco mais para procurar ele, mas não consegui mais achar”, expôs. Segundo ela, na maioria das vezes, os cachorros envenenados procuram um local longe de casa para morrer.

Em toda luta existem os momentos de conquistas e de derrotas
Mas nem todas as suas missões acabam sendo bem sucedidas. Embora, o esforço empregado em todas seja o mesmo, existem algumas coisas que já são tarde demais para serem feitas. Como no caso ocorrido no dia dos pais deste ano, dia 9 de agosto, quando Neide recebeu mais um chamado, desta vez para ajudar um cavalo que foi abandonado. Ela deixou sua família e foi socorrer o animal. O dono do cavalo, que o utilizava para puxar uma charete para recolher papel, abandonou-o amarrado em um terreno cheio de lama. Sem comida e sem água, o animal ficou tão fraco que não conseguia mais ficar em pé.

Para conseguir tirar o cavalo do local foi necessária a ajuda de mais seis pessoas. Os voluntários removeram o animal com uma espécie de maca, que foi colocada embaixo de sua barriga. A luta depois disto, foi conseguir um abrigo. Como aconteceu em muitas vezes, amigos ajudaram a socorrer a mais esta vítima dos seres humanos. Um amigo de Neide cedeu um espaço em seu sítio para que o animal ficasse protegido da chuva e tivesse comida.

Na manhã da quinta-feira, dia 21 de agosto, ao visitar o local onde o cavalo havia recebido abrigo, para mostrar à reportagem da revista Radar o animal que estava sendo recuperado, aconteceu o que Neide menos esperava. O cavalo estava morto. Momento este, em que a alegria deu lugar a tristeza em poucos segundos. A emoção tomou conta de Neide, que chorou muito ao perceber que todo o trabalho realizado não tinha sido o suficiente para reverter os danos causados pelo dono daquele ser vivo. Diversos potes de soro que ficaram próximo ao bicho, demonstraram o esforço feito para que aquele cavalo continuasse a viver.

E a luta continua
A Apante conseguiu uma autorização da Cooperativa Regional de Eletrificação Teutônia (Certel) para que sejam realizadas doações por meio das contas de luz. Desta forma, conseguirá obter recursos para continuar atuando na defesa dos animais. Como a entidade ainda não possui sócios, somente os membros da diretoria realizam algumas ações. Os interessados em realizar a doação podem procurar os formulários nas lojas da Certel, preencher os dados necessários e estipular o valor que deseja contribuir.

“Vamos começar a ir em todas as casas explicar o nosso trabalho e o que a gente pretende fazer com a doação. Pois, sem dinheiro a gente não consegue fazer nada. Por exemplo, este cavalo que a gente recolheu, o veterinário precisou ir lá três vezes e tudo isso custa dinheiro”, destacou. O recurso que a associação possui atualmente é proveniente de repasses feitos pela promotoria, por meio de multas pagas por praticantes de rinha denunciados pela Apante.

Neide acredita que se cada um fizer uma pequena contribuição, no somatório muito poderá ser feito por estes animais. “Se conseguirmos mil sócios e cada um deles doar R$ 1,00, vamos conseguir castrar muitos cães”, destacou. As pessoas que desejam ajudar a associação podem fazer outros tipos de doação também, como ração para os animais.

Abrigo
No município não existe um local para abrigar estes animais que são recolhidos, por isso os integrantes da associação têm que procurar pessoas que adotem os bichinhos logo em seguida. Criar um local parar abrigá-los é uma das metas da entidade. Um grupo de teutonienses, entre eles integrantes da associação, visitou no início deste ano o Centro de Controle de Vetores e Zoonoses de Lajeado para trocar experiências e conhecer possíveis práticas de serem implantadas em Teutônia.

“Quando eu conheci aquele lugar, que é ao lado de um lixão, não quis mais sair de lá. Fizeram aquele lugar ficar muito bonito. O local é monitorado por câmeras, para evitar que simplesmente pessoas abandonem os animais lá. Espaços separados para abrigar de dois a três cachorros por baia. Com uma boa estrutura, com lugares para fazer castração, cirurgia. Esse é meu sonho, isso que quero para nossa associação”, enfatizou. Neste centro de zoonoses em Lajeado, os animais são medicados, everminados e castrados. Como também, são chipados e encaminhados para adoção.

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