sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Chimarrão: um hábito antigo que virou tradição

A tradição de consumir o chimarrão ou mate é bastante antiga. A bebida é uma característica da cultura do sul da América do Sul, um hábito deixado pelos índios guaranis há cerca de 500 anos. Embora seja uma tradição antiga, ainda hoje é um hábito fortemente cultivado no Brasil – no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, principalmente -, em parte da Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e a Argentina.

Os primeiros indícios que se tem do consumo do chimarrão remontam para a época em que foram “descobertos” pelos colonizadores espanhóis os índios de Guaíra (atual Paraná). Entre os hábitos destes índios, havia o uso de uma bebida feita com folhas fragmentadas, tomadas em um pequeno porongo por meio de um canudo de taquara para impedir que as partículas das folhas fossem ingeridas. A bebida era chamada por eles de caá-i (água de erva saborosa).

Como preparar um bom chimarrão
Esta tradição que passa há séculos de pai para filho, e de avó para neto é algo comum na vida dos gaúchos. Pois, o chimarrão tem a característica de ser uma bebida comunitária, principalmente quando a família se reúne, sendo quase obrigatório de ser servido quando chegam visitas. Como se fosse um cerimonial, tornado-se um ato amistoso e agregador. Tomar mate é algo que não tem lugar nem horário, os gaúchos consomem o bom amargo na praia, trabalhando, na aula, escutando música, nas praças e calçadões. Os acompanhamentos também são diversos como o churrasco, cuca, rapadura, pipoca e até mesmo chocolate. Saiba, então, como preparar o mate.

Ingredientes:
Erva-mate
Cuia
Bomba
Água quente

1 – Reserve a água quente em uma térmica. Pegue apenas um pouco dessa água quente e ponha em um copo ou xícara. Adicione um pouco de água fria para deixar a mistura morna. Reserve. Encha cerca de três quartos da cuia com erva-mate.

2- Tape a boca da cuia com um aparador reto e vá virando aos poucos até deixá-la quase deitada.

3 - Na posição horizontal, toda a erva deve ficar concentrada em um lado da cuia, formando um barranco. Com uma colher você pode alisar a superfície lateral da erva, acompanhando o formato da “barriga” da cuia.

4 - Derrame água fria no lado da cuia que não tem erva, onde a água vai molhar a erva e não vai deixar ‘desmachar’ seu chimarrão quando você for colocar a cuia a posição correta.

5 – Posicione a bomba de frente para o barranco da erva ou ao lado dele. Manter o bico da bomba tampado com o polegar até posicionar a bomba no lugar certo, evita com que fique entupida.

Dicas para curtir a cuia par “curtir a cuia”
Antes de cevar um bom chimarrão é necessário “curtir a cuia”, se ela ainda não tiver sido usada ou mesmo ter sido adquirida recentemente. A forma mais simples de fazer isto é enchendo a cuia com erva-mate pura ou misturada com cinza de lenha e água quente. Esta mistura deve permanecer úmida por dois ou três dias no porrongo, fazendo com que o sabor da erva fique impregnado na cuia. A cinza ajuda a fazer com que ela dure por mais tempo, mas não é obrigatório o seu uso. Depois, é só retirar a erva e enxaguar a cuia com água quente, que ela estará pronta para ser usada. Algo bastante comum é colocar a cuia para ferver com flores maçanilha (camomila) após o curtimento. Lavada somente com água depois do uso, a cuia pode durar até 20 anos.

Etiqueta na roda de chimarrão
Embora, o ato de matear seja algo comum e, na maioria das vezes, informal, a roda de chimarrão possui regras. Algumas etiquetas que devem ser respeitadas por aqueles que dela participam. Se você é iniciante ou mesmo quer relembrar delas, observe algumas:

Espere a sua vez – É falta de educação pedir um chimarrão. Quando se chega à roda, o correto é sentar-se à esquerda de quem está servindo, para esperar que o mate percorra toda a roda.

Receba e devolva com a mão direita – Deve-se receber e devolver o chimarrão com a mão direita, sempre com o lado da bomba para a pessoa que está recebendo. Se a mão direita estiver impedida, é de bom tom pedir desculpa.

Não mexa na bomba - É falta grave mexer na bomba e evite tocar na erva. Se o chimarrão estiver entupido, deve-se devolvê-lo a quem preparou.

Servir com mão esquerda – Para servir, segura-se a cuia com a mão esquerda e a chaleira ou garrafa térmica, com a direita. A cuia, embora tenha tamanhos variados, indica a quantidade ideal para uma pessoa.

Faça roncar no fim – Só se devolve o mate depois de fazê-lo “roncar”, som que sinaliza o término da água na cuia. A pessoa deve tomar toda a água servida. Nunca deixando um chimarrão pela metade.

Não morra com a cuia na mão – Conversar demais com a cuia na mão, causa a impaciência dos demais integrantes da roda. Se estiver contando uma história, deve interrompê-la e só continuar depois de devolver o mate. Cuia também não é microfone, então não demore muito.

Limpe o batom- Se na roda estiver uma mulher com batom, a bomba deve ser limpa a cada vez que ela toma o mate.

Senha para sair – Só agradeça o chimarrão a quem está servindo o chimarrão, quando não quiser mais tomar.

Faz bem a saúde
Além de saborosa, a matéria prima do chimarrão possui diversas propriedades nutritivas, fisiológicas e medicinais no produto, o que lhe confere um grande potencial de aproveitamento. A Ilex paraguariensis, como é chamada cientificamente, possui compostos capazes de combater os radicais livres, que prejudicam o bom funcionamento do organismo.

Os ácidos fenólicos existentes na erva agem como antioxidantes, combatendo processos oxidativos das células, evitando assim o envelhecimento natural. A função antioxidante da erva também pode evitar a aterosclerose, que é a deposição de placas no interior das artérias, fator de risco para o aparecimento de doenças cardiovasculares. O consumo de chimarrão também protege contra LDL, o colesterol ruim.

Já a cafeína age como um estimulante, melhorando a concentração e evitando o cansaço. Elimina estados depressivos, deixa o cérebro em alerta e ajuda a espantar a fadiga. Assim como todos os alimentos saudáveis, a erva-mate não faz milagres sozinha. A erva-mate deve ser consumida com freqüência, mas sempre aliadas a uma alimentação saudável e balanceada.

Nutrientes – Estão presentes diversos nutrientes na erva-mate. Como sais minerais, vitaminas e açucares. Segundo estudos, 100g de erva-mate têm 8% de vitamina C, 10% de cálcio, 15% de ferro e 19%de magnésio em relação à dose diária recomendada para uma dieta de 2.000 calorias.

Restrições – Pessoas hipertensas, que tenham insuficiência cardíaca ou tendência a refluxo gastroesofágico (passagem de grande quantidade do conteúdo do estômago de volta para o esôfago) deve evitar excessos.

Câncer de esôfago – O chimarrão não causa a doença. Água quente e consumo em excesso podem contribuir para o desenvolvimento do câncer – especialmente se associado ao álcool e cigarro.

Transmissão de doenças – Praticamente inexiste chance de contágio. A água quente e as propriedades bactericidas da saliva eliminam o risco.

Emagrecer – A erva-mate não tem nenhuma propriedade emagrecedora. No entanto, a ingestão de água é coadjuvante em processos de perda de peso.

Efeitos digestivos e diuréticos – A cafeína presente na erva-mate tem essas propriedades. Além disso, a ingestão de grande quantidade de água também auxilia a diurese. Age também sobre o tubo digestivo, facilita a digestão e favorece a evacuação e mictação.

Horário adequado – O ideal é tomar antes das refeições, para que o organismo comece a produzir substâncias digestivas antes de receber alimentos.

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