sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Briga entre irmãos são naturais?

OBS: matéria publicada na revista Radar em 2009.

Aquelas pessoas que possuem um ou mais irmãos provavelmente entendem do que vamos falar. As famosas brigas que geram desentendimentos e conflitos familiares, em alguns casos, além das agressões verbais acabam também sendo físicas. Apesar de ser uma velha conhecida da maioria das famílias, segundo a psicóloga Lilian Hauschild, motivam preocupações e sofrimentos aos pais.

“A família é o primeiro contexto no qual a criança é inserida, onde aprenderá as primeiras noções de relações sociais. O ambiente familiar pode contribuir para o crescimento e desenvolvimento infantil”, destacou Lilian. O ponto de partida para as crises entre os irmãos é o nascimento do novo irmão.

Para a psicóloga isso se dá, porque cada sujeito busca incessantemente desenvolver o seu sentimento de pertencer ao mundo, à família e a si próprio. “Este sentimento fica muito abalado com a chegada do novo irmão, fato este que representará para o irmão mais velho um momento de desamparo”, explicou Hauschild. Ela acrescenta que o primogênito sente como se o mundo estivesse desabando, sente-se abandonado pelos pais e desamparado.

E, ainda com a difícil missão de abandonar seu papel especial na família. “Esta sensação de desamparo percebida pelo mais velho acende a rivalidade em relação àquele que necessita de cuidados mais intensos por parte dos pais”, revelou a psicóloga. Porém, apesar de a tarefa de aprender a compartilhar os pais ser difícil e dolorosa, se faz necessária para o aprendizado daquela criança.

À medida que o irmão mais novo vai crescendo, vai manifestando também as suas reações. “Ambos são competitivos e implicam um com o outro, para criar uma briga. O objetivo é sempre envolver o pai ou a mãe, em especial o que estiver mais próximo”, expôs Lilian. A intenção é que o pai ou a mãe tomem partido, vindo a defendê-lo no conflito.

“O ciúmes que se acende nas crianças revela um sentimento de vazio, solidão e desamparo que impõe a presença segura e protetora dos pais, necessária para formatação dos vínculos familiares e sociais”, contou ela. Nas interações entre irmãos há predomínio da similaridade de papéis, o que significa que as crianças geralmente são hábeis na resolução de seus conflitos: superam e esquecem facilmente suas encrencas.

A psicóloga alerta que a interferência dos adultos, se posicionando a favor de um ou de outro com freqüência, atrapalham a fórmula simples encontrada pela criança para resolver suas briguinhas. Isso acaba acontecendo, pois a hostilidade e irritabilidade de um irmão com o outro gera culpa nos pais, que acabam se sentindo frustrados e incapazes diante das crises vivenciadas pelos filhos.

Porém, Lilian tranqüiliza. “A rivalidade é saudável e normal nos relacionamentos importantes. Amar e competir são sentimentos que abastecem um relacionamento apaixonante”, finalizou.

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