quinta-feira, 15 de julho de 2010

Acupuntura - A "picada" que pode curar

OBS: matéria publicada na revista Radar e no caderno Inclusive da Folha Popular em 2009, em versões diferentes.

O japonês Hugo Hatori escolheu o Brasil há cerca de 34 anos para viver e exercer uma profissão que existe há milhares de anos e já é utilizada antes mesmo de Jesus Cristo. Embora, a acupuntura seja um ramo tradicional da medicina Chinesa, Hatori aprendeu em seu país de origem, através um curso profissionalizante durante dois anos, por ser na realidade uma técnica tradicional em todo o oriente.

Hatori expôs que mesmo depois de terminado o curso, existe a necessidade de um aperfeiçoamento. “A acupuntura exige muita experiência. Depois deste estudo teórico, é preciso aprender na prática”, explicou. Ele conta que em alguns casos, aprendizes procuram um mestre que possuem esta prática, para apreender os pontos corretos de aplicação.
Em 1975, ele se mudou para o Brasil. Na época, segundo ele, o método considerado complementar para aliviar dores e tratar doenças, não era muito conhecido. “Apenas em São Paulo, onde existe uma colônia japonesa”, destacou Hatori. Atualmente, existe até mesmo a Associação Médica Brasileira de Acupuntura. Mas, conforme ele relata, foi muito difícil convencer as pessoas da eficácia deste tipo de tratamento.

Depois da vinda, Hugo voltou ao seu país de origem para buscar mais conhecimentos e, posteriormente voltou. Vindo a se instalar no Rio de Janeiro para apreender esta prática tão necessária. No Estado carioca conheceu um brasileiro que fazia acupuntura e começou a trabalhar com ele. “Os médicos eram contra as nossas técnicas, achavam que éramos curandeiros”, contou. Hoje, Hatori atende em uma sala na rua Marechal Floriano, no Centro de Estrela.

Na década de 80, o método começou a ser mais divulgado, em especial pela mídia brasileira. Depois disto, os médicos começaram a estudar a técnica e a entender a profissão. Alguns médicos inclusive passaram a se utilizar dos conhecimentos orientais. Embora, a aceitação seja maior atualmente, a profissão ainda não é legalizada oficialmente no país.

Na China a prática da acupuntura está tão enraizada, que os pacientes têm a opção de escolher em cirurgias ou para extrair dentes a utilização da acupuntura ou anestesia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou estudos no sentido de comprovar a eficácia da acupuntura e listou todos os males que tem resposta positiva a este tratamento. No ano passado, esta lista foi ampliada e agora abrange 147 doenças (lista em anexo).

Tratando dores e doenças sem remédios
O acupunturista Hugo Hatori salienta que o tratamento médico em casos graves não deve ser totalmente ignorado, mas sim, pode ser muito auxiliado com esta técnica. Ele explica que a acupuntura é uma terapia de estímulo de alguns pontos que existem no corpo. Segundo ele, existem cerca de 850 destes pontos em todas as partes que constituem-se o corpo humano.

“Cada um destes pontos corresponde a um órgão. Através do estimulo destes pontinhos específicos em cada parte obtemos os resultados. Como na mão, por exemplo, que possui um local, que sendo estimulado pode auxiliar os problemas de sinusite”, complementou ele. E, assim, para cada órgão existe um ponto que pode ser estimulado para solucionar determinado problema que a pessoa possui. Segundo o especialista, estes pontos são trabalhados para equilibrar as energias do corpo.

O pensamento que rege esta profissão é de que o corpo do homem possui um equilíbrio, que pode ser alterado por diversos tipos de influências, como alimentar, comportamental e muitas outras. “A doença e a falta ou o excesso de energia. A acupuntura busca-se este equilíbrio das energias”, explicou ele. Energias estas chamadas de Yin e Yang. Os fatores que determinam os pontos que serão trabalhados são os sintomas que se apresentam. Esta parte do corpo não será necessariamente o local no qual a pessoa está sentindo a dor.
Na realidade, podem ser utilizados dos tipos de instrumentos para realizar este estímulo, as agulhas (Zhen) ou a moxa (Jiu) – que é a fibra de uma planta chamada artemísia. Conforme Hatori, na aplicação das agulhas a pessoa não sente nenhum tipo de dor. “Nos extremos, como as mãos que são mais sensíveis, elas podem sentir alguma coisa, mas é uma dor suportável”, complementou Hatori.

No caso da moxa, é feita a aplicação nestes mesmos locais, mas são feitas pequenas bolinhas com as fibras, que são colocadas na pele e em seguida são queimadas. Neste caso, ele conta que a pessoa sente um pouco de dor, mas da mesma forma, é uma dor suportável. A moxa, em geral, é aplicada para problemas crônicos como artrite ou em alguém que tenha sofrido um derrame.

Sem restrições
Ambas as técnicas podem ser aplicadas em pessoas de qualquer idade. Para a aplicação em crianças as agulhas são um pouco diferente. “As crianças pequenas reagem muito bem, como eles estão em formação, qualquer estimulo já aparecem os resultados”, expôs o acupunturista. As mamães podem buscar a técnica, por exemplo, para dores de barriga e gripes.

Ele também recomenda que as futuras mamães se utilizem da acupuntura para aliviar as dores comuns da gravidez, já que não podem tomar remédios, como também para diminuir as dores do parto. Segundo o acupunturista, o parto normal se torna quase sem dor, se a mulher se preparar fazendo as aplicações. Aquelas pessoas que possuem dificuldades de engravidar - infertilidade, de ambos os sexos, também podem recorrer às agulhas.

A vantagem da técnica, segundo Hatori, é que a acupuntura não possui efeitos colaterais. Além disso, ao estimular um ponto, a pessoa pode tratar vários problemas ao mesmo tempo. “É claro que existem alguns cuidados, no caso de quem está muito debilitado, pois não podem ser muito estimulados, se não vai sentir os efeitos de forma muito forte”, alertou. Em casos de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC) consegue-se até mesmo a recuperação dos movimentos afetados.

Em geral, as pessoas já sentem os efeitos no começo do tratamento como um pouco de cansaço e moleza. Algumas pessoas podem demorar um pouco mais a responder a esses estímulos, mas ele explica que na grande maioria dos casos, as pessoas logo sentem os benefícios. As sessões de aplicações demoram normalmente 1 hora.
Hugo conta que a maioria das pessoas que procuram sua clínica tem algum tipo de dor na coluna. Como também, hérnia de disco e enxaqueca, que causam dores muito fortes. Para complementar o tratamento com as agulhas e moxa, o especialista recomenda também atividades físicas como a Yoga e uma alimentação equilibrada.

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