terça-feira, 14 de setembro de 2010

Qual o preço de um sonho?

OBS: matéria publicada na Revista Radar de agosto de 2010. 


"É a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante". A frase do escritor Paulo Coelho, que tem seus livros na lista dos mais vendidos no mundo, traduz uma realidade recorrente a maioria das pessoas. Pois, todos nós temos um sonho, um desejo ou uma meta que pretendemos alcançar a médio ou a longo prazo. E, se não fosse este sonho, talvez a vida não faria sentido, pois não teríamos algo que nos fizesse seguir adiante.

Os desejos são dos mais variados, desde uma linda cerimônia de casamento, construir uma casa, ter um filho, se formar na faculdade até viajar pelo mundo, entre outras loucuras. Mas, na maioria destes casos, é preciso investir não somente tempo e dedicação, mas também dinheiro. Para cada um, o sonho terá um preço diferente, que também pode ir muito além da questão financeira.

Alguns sacrifícios também serão necessários. Aqueles gastos extras com festas, roupas e jantares em restaurantes, poderão ter que ficar em segundo plano, para que o dinheiro necessário para alcançar o objeto de desejo possa ser poupado. Entretanto, a satisfação com a(s) conquista(s) no final tende a compensar muitas coisas.   




A casa própria
A vendedora Mara Luciana Brune Aschebrock, 28 anos, realizou há cerca de três anos um dos seus grandes sonhos: construir uma casa própria. Antes mesmo de casar, segundo Mara, ela alugava um espaço em uma pensão, buscando uma independência da casa dos pais. Depois de mais ou menos cinco anos de namoro com o marido Marco Henrique Aschebrock, eles resolveram arriscar e concretizar este sonho.

Para conseguir um financiamento no banco, os dois formalizaram a união no civil. Assim, em janeiro de 2007 conseguiram iniciar as obras da futura moradia. No mês maio do mesmo ano, a residência estava pronta. "Uma das grandes dificuldades neste período era encontrar tempo para escolher o material que queríamos colocar na casa, pois trabalhávamos", contou Mara.

Porém, somente quatro meses depois da obra concluída conseguiram efetivamente passar a morar no local. "Sempre estávamos na expectativa de fazer a mudança. Foi um sonho realizado", destacou Mara. Conforme, ela foi um momento especial, pois sempre desejou ter seu espaço para poder fazer as coisas do seu jeito.
O valor estimado do financiamento da casa fica em torno de R$ 35 mil, que ainda está sendo pago pelo casal. Os móveis não estão contabilizados neste montante. "Foi difícil no início, pois não podíamos mais comprar tantas roupas e sapatos quanto a gente gostaria. Agora, até está ficando mais fácil, porque a prestação não está mais tão alta", ressaltou a vendedora.

Nos primeiros meses também, eles tiveram que utilizar os móveis que já tinham e, com o tempo, foram adquirindo novos. Tudo isso, para Mara valeu a pena, tanto que já aumentaram a casa que era de 70m². O investimento extra foi feito com dinheiro próprio.   

Filhos
Casada há 14 anos com Sérgio Guerres, a funcionária da Ótica Lauro, Eliane Andrea Guerres, 35 anos, demorou cerca de 5 anos para realizar o sonho de ter um filho. O caminho até o nascimento de Gabriel, 9 anos, foi longo e com bastante sacrifícios. "Desde que casamos sempre tivemos muito desejo de termos um filho", comentou Eliane. Na verdade, o que a impedia era uma doença chamada endometriose.

Depois de dois anos de tratamento, a base de medicamentos, a enfermidade já havia comprometido severamente uma parte do útero. Impossibilitando assim, com que ela pudesse ter filhos. "Sentia muitas dores por causa da doença, era terrível", contou. Em seguida, conseguiu uma consulta com um médico especialista em Porto Alegre, que também realizou tratamento com remédios, o que mais uma vez não deu certo.

O especialista, então, decidiu por uma pequena incisão cirúrgica. "Mesmo assim, ele nos deu apenas de 10% a 30% de chances de engravidar", expôs. Antes de realmente alcançar seu sonho, Eliane teve problemas na gestação e abortou. Mas, enfim o filho Gabriel veio, porém prematuro de sete meses. "Os médicos disseram que ele foi um herói, pois lutou muito para viver", ressaltou ela.

Ela se emociona ao falar do momento em que realizou seu sonho. "Foi tudo muito rápido e quando ele saiu não escutei o choro, pois devido a complicações ele já estava sem respirar. Os médicos tiveram que fazer uma reanimação. Depois, quando me trouxeram ele, tive medo de pegar e como não tinha muita força tivemos que dar leite em uma seringa. Foi muito emocionante", revelou Eliane.

Para ela fica até difícil de decidir se este foi o momento mais marcante ou quando tiveram o resultado positivo da gravidez, depois de diversas tentativas. "Me sacrifiquei e lutei, porque era o nosso sonho. Sempre tive meus filhos como objetivo maior", complementou. Uma outra gestação também foi frustrada, antes da Bruna, 5 anos, nascer. Segundo ela, também foram momentos difíceis, com um descolamento de placenta.

Porém, o que valeu a pena para ela é que atualmente eles são felizes e saudáveis. Um dos pontos positivos é que conseguiu realizar todos os procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Profissão
Desde pequena a massoterapeuta Patrícia Queiroz, 28 anos, gostava de fazer massagem nos familiares, professores e amigos. A vontade necessária para buscar o sonho, que hoje já é realidade, surgiu desta forma. Por bastante tempo, Patrícia trabalhou em uma indústria calçadista, foi onde conseguiu uma renda para ir atrás de suas metas. Decidida a buscar seu sonho de trabalhar como massoterapeuta, não pensou duas vezes quando uma amiga a avisou sobre um curso na área no Senac em Lajeado.

Assim, por cerca de dois anos e meio a jornada foi dobrada. Patrícia trabalhava durante o dia e estudava todas as noites. A estimativa dela é que tenha gastado em torno de R$ 8 mil, somente pagando as mensalidades, sem contar o transporte e livros. “Não foi barato e o período também foi longo. Sem a ajuda dos meus pais ficaria difícil conseguir”, comentou a massoterapeuta. Por isso, os gastos extras tinham que ser controlados. “Tinha que colocar tudo no orçamento, para poder comprar”, expôs.

Mas os gastos não pararam por aí, depois de formada há cerca de dois anos e meio, Patrícia precisou investir no mobiliário de seu consultório. “Comprar ar-condicionado, roupa de cama, toalhas, produtos de massagem, maca, enfim todo material necessário para poder trabalhar. Foi um grande investimento”, ressaltou. Antes de montar seu próprio espaço, ela também atendeu em outros dois locais. Atualmente, além do consultório no Centro Clínico, ela atua em duas empresas de Teutônia, como também como professora do curso de massoterapia do Senac de Lajeado.

“Todo investimento é sempre bom, porque vai te trazer algum retorno. Pode ser através de conhecimento ou mesmo financeiro”, destacou a profissional. Tudo isso, conforme ela, valeu muito a pena. “Quando consegui me formar senti uma coisa muito boa, indescritível. Ainda mais se a gente faz o que gosta tudo é feito com mais prazer e o sacrifício fica menor”, enfatizou.

Uma das grandes diferenças que ela sente de quando trabalhava em uma fábrica de calçados são os horários alternativos que precisa fazer para atender os clientes. Como também, precisou passar assinar sua própria carteira de trabalho como autônoma, não tendo mais o salário fixo que tinha antes quando era empregada. “Preciso me adaptar as possibilidades dos clientes”, comentou. O que não é um empecilho, pois gosta muito do que faz.

“Ninguém pode buscar os sonhos pela gente, só a gente mesmo pode correr atrás. O importante é aproveitar as oportunidades que a vida nos dá. Fico feliz, pois tive a ajuda dos meus pais para realizar meu sonho, quando existem muitas pessoas que não têm”, frisou Patrícia. 

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