quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O dia-a-dia de uma pessoa que necessita realizar hemodiálise

OBS: matéria publicada na revista Radar em 2010.

Há três anos a teutoniense Tânia Terezinha Geibe, 52 anos, segue para o município de Lajeado três vezes por semana. O motivo destes constantes deslocamentos à cidade vizinha: a realização de hemodiálise devido a complicações nas funções dos rins. Para deixar melhor explicado, a hemodiálise é um processo de filtragem de substâncias indesejáveis do sangue. A terapia é necessária em pessoas, que o funcionamento dos rins está seriamente comprometido e não consegue mais eliminar de forma natural estas substâncias do organismo.

Tânia descobriu o problema, após diversas infecções urinárias que contraiu. Os médicos fizeram uma investigação e através de radiografias e ecografias ficou confirmado que ela possuía rins policísticos, ou seja, dentro de seus rins existiam cistos que com o tempo foram crescendo e impedindo o funcionamento do órgão. A descoberta aconteceu quando ela ainda tinha 32 anos e seus rins continuavam realizando cerca 50% de suas atividades normais.

Na época, ela fazia apenas tratamento a base de remédios, para controlar a pressão alta, cuidava a alimentação, principalmente evitando a ingestão de sal, além de evitar a excessiva exposição ao sol, que facilitava o aparecimento de infecções. “Mesmo assim, cada vez mais a parte do rim que funcionava foi diminuindo”, comentou Tânia. Ela ainda acrescentou que mantinha sua vida normalmente, com dores apenas quando era atingida por alguma infecção urinária.
Para controlar a porcentagem que ainda estava funcionando, ela realizava exames regularmente a cada meio ano. “Quando esta porcentagem foi diminuindo mais, os exames foram sendo feitos a cada três meses e, por fim, todos os meses”, contou ela. Conforme Tânia, no momento em que a porcentagem é menor que 10%, o paciente precisa encarar as sessões de hemodiálise.

Em 2006, os médicos constaram que apenas 12,8% de seus rins estavam funcionando. Momento que iniciaram os preparativos, para que ela passasse a encarar a máquina tão temida. “Os médicos já me alertavam que poderia acontecer de nunca haver necessidade, da mesma forma, que existia a possibilidade de precisar filtrar o sangue no aparelho”, revelou. Então, como a porcentagem de funcionamento estava próxima da faixa de perigo, Tânia precisou realizar uma cirurgia no braço esquerdo, para a colocação do que os médicos chamam de fistula.

Existe a necessidade deste tipo de intervenção cirúrgica, pois para que a hemodiálise seja satisfatória, o sangue precisa passar em grande quantidade pelo filtro. E, para que se tenha o volume ideal de sangue, precisa ser criado um acesso vascular, que é o que possibilitará a conexão do sistema circulatório do paciente com a máquina de diálise. Existem dois tipos de acesso: os provisórios, nos quais são inseridos tubos especiais chamados de cateteres e os internos, nos quais são construídas as fístulas arteriovenosa.

As fístulas arteriovenosas são cirurgias de pequeno porte, extremamente delicada, geralmente realizada com anestesia local. Nesta cirurgia, uma veia superficial é suturada em uma artéria. Com essa ligação, o sangue arterial que tem alta pressão, vai para as veias superficiais e assim, a veia aumenta de tamanho e o volume de sangue que corre por ela também aumenta provendo um fluxo sangüíneo suficiente para que a hemodiálise possa ocorrer.

Normalmente as fístulas, como primeira escolha, são construídas na altura do punho, como foi no caso de Tânia, mas também podem ser construídas na altura da prega do cotovelo. Após a cirurgia, ocorre um período denominado de período de maturação que é o tempo necessário para que a veia superficial "engrosse" e fique pronta para ser puncionada. Sendo assim, não é permitida a realização de sessões de hemodiálise no primeiro mês após a cirurgia, existe sempre um tempo de espera.

O momento de começar
“Consegui permanecer somente com os remédios e os cuidados até junho de 2007, quando foi necessário passar pelo procedimento de hemodiálise”, pontuou Tânia. No período, os exames já apontavam apenas 9,8% dos rins funcionando, por isso foi preciso mudar o tratamento. “Mesmo com o aviso dos médicos de que isso poderia acontecer, no início não foi fácil. Passei por momentos delicados, até mesmo o início de uma depressão. Porém, com o tempo vi que não é o fim do mundo e existem coisas muito piores”, ressaltou.

Complicações
No fim do ano passado, mais precisamente em novembro a primeira fistola fechou e houve a necessidade de fazer outra, um pouco mais acima da anterior, porém no mesmo braço. O problema foi que, como dito antes, a espera para a utilização da pistola nova é de cerca de um mês. Assim, para poder continuar a realizar o procedimento foi preciso fazer um cateter no pescoço. Normalmente, este tipo de cateter é feito na veia jugular próximo ao coração, mas, no caso de Tânia, causou palpitações excessivas e precisou ser feito no pescoço.

O que trouxe bastante transtornos, pois o local não podia ser molhado. Os banhos ficaram mais complicados. “Para lavar o cabelo tinha que ir a um salão de beleza, para evitar que o local molhasse”, contou ela. O marido, Arno Geib, segundo ela, auxiliou muito nestes momentos. “Ela me ajudava me dando banho com uma ducha, foi bem complicado”, comentou Tânia.

Reações
Para os pacientes as sessões não são tão complicadas, como as reações e limitações que o tratamento traz. Para a teutoniense as reações somente são sentidas após as sessões. “Durante o procedimento que dura cerca de 3h e meia, não sinto nenhum tipo de dor. Apenas é claro, das agulhas o que é normal. Mas depois, fico bastante fraca”, relatou. Ele contou ainda que no outro dia está recuperada, depois de conseguir repousar. Apesar de atualmente possuir uma rotina quase normal, existem diversos cuidados que ela deve manter e algumas limitações nas suas atividades diárias, como não poder carregar peso e fazer esforço.

Desde que realizou os procedimentos, também não pode mais trabalhar, algo que ainda sente bastante falta. “Faz falta não poder trabalhar, pois preferia estar trabalhando do que estar na máquina de hemodiálise”, pontuou. Além disso, não pode exagerar no sal e na quantidade de água que ingere. No caso de viagens, a cidade de destino precisa ter uma clínica que faça o procedimento, para que ela então possa seguir viagem. Um dos pontos positivos, é que ela consegue a maioria dos remédios e também a hemodiálise pelo Sistema único de Saúde (SUS).

Na fila do transplante
Há cerca de uma no na fila, agora a esperança é conseguir um doador, para que não precise mais da hemodiálise. Os familiares não puderam se candidatar como doadores, por se tratar de uma doença hereditária. Porém, o marido Arno fez os exames para tentar ajudar a esposa, mas não deu certo. Os exames apontaram incompatibilidade entre eles.

Mas, o bom humor e a alegria de vida ainda continuam presentes no rosto de Tânia, que sempre conseguiu vencer as dificuldades com muita perseverança. “Dependo da máquina, se não tivesse provavelmente não estaria aqui. Por isso, fico feliz que tenha pelo menos existe uma alternativa. Aprendi a enfrentar os problemas. Não é uma coisa fácil, mas comparo a um trabalho comum, no qual em determinada hora e local tenho que estar lá, para cumprir meu serviço. Além disso, tive sempre muito apoio de toda a minha família, o que me ajudou muito nos momentos mais críticos”, destacou Tânia.

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