quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Jovens de Teutônia investem para permanecer no campo

OBS: matéria publicada no caderno Inclusive da Folha Popular em 2010.

Muito se fala da necessidade dos donos e responsáveis por empresas serem empreendedores, adquirirem conhecimento para fazerem o melhor nas áreas em que atuam. Mas, este pensamento não se limita as empresas de uma forma geral, que estão instaladas nos centros urbanos. Este pensamento também passou a fazer parte do meio rural.

A propriedade rural deve ser vista, por aqueles que querem permanecer nesta atividade, como uma empresa, capaz de agregar valores e gerar lucros. O que se quer dizer, é que o produtor rural tem que se colocar na condição de empresário e tocar a propriedade rural como uma empresa.

Porém, ao contrário do que se pensa na maioria dos casos, é necessário ter conhecimento para enfrentar os obstáculos e saber planejar as atividades. Em Teutônia, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais ofereceu esta possibilidade aos jovens rurais, para se tornarem empreendedores, através do Programa Empreendedores Rurais (PER).

Além de buscar conhecimento para aproveitar melhor os recursos que possuem, existem três jovens teutonienses que tem algo a mais em comum. Eles tiraram os projetos que desenvolveram no curso do papel e estão investindo em suas propriedades, visando gerar melhores lucros, como também melhores condições de trabalho.

Organizando a propriedade
Para a jovem Sabine Cort, 21 anos, muita coisa mudou depois do aperfeiçoamento realizado junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia. “Comecei a fazer gestão, consegui organizar a propriedade e avaliar melhor no que vale a pena investir”, contou Sabine. A jovem cursou três semestres da faculdade de Administração de Empresas, graduação que pretende dar andamento mais adiante. Além disso, fez outros cursos de gestão e administração, sempre com foco em melhorar suas atividades no campo.

Como parte integrante do PER, os jovens empreendedores rurais tiveram que organizar um projeto. Assim, fazendo as contas juntamente com os pais, que ela viu que poderia investir em uma sala de ordenha. “Fizemos as contas e vimos que com os centavos a mais que vamos ganhar pelo litro do leite, a longo prazo, vai fazer com que consigamos pagar o financiamento e também ter uma renda melhor”, revelou Cort. O prédio para abrigar a nova estrutura, que está funcionando desde junho de 2009, estava pronto, mas precisou de alguns reparos.

Desta forma, com aquilo que estava apreendendo nos encontros, conseguiu ver de forma prática, em suas atividades diárias, que poderiam mesmo funcionar. “Aprendi a fazer as contas do que valia a pena na área do leite”, destacou Sabine.

O lucro não está sendo o único ponto positivo deste novo investimento. “Temos mais conforto e facilidade para trabalhar”, ressaltou a agricultora. Sabine revela que a ordenha manual estava prejudicando a saúde da mãe, que passou a sentir dores nas costas por passar muito tempo abaixada. Agora a realidade é outra. A qualidade de vida para as duas é muito melhor, elas que tocam a produção, podem se beneficiar do investimento. O tempo de ordenha também diminuiu. O processo que era de duas horas, passou a ser de 45 minutos.

Com o investimento que fez na produção leiteira da família, que está proporcionando um lucro melhor, os sonhos agora estão voltados para o agronegócio. “A intenção para o futuro é montar uma agroindústria familiar, na qual vamos vender leite em saquinho. Assim não dependeremos dos outros. A qualidade do leite nós já temos”, disse ela. Para tanto, a família vai precisar aumentar a produção. Mas, como ele gosta de destacar, tudo isto está no planejamento, na organização dos gastos, para um futuro promissor no meio rural.

Outros pontos também mudaram depois que aprendeu ser uma empreendedora rural. “Para o fornecimento de ração, não estamos mais presos a apenas uma empresa. Faço uma pesquisa e busco aquele que oferecer um preço melhor”, ressaltou. As propostas para pagamento a vista e para os pagamentos a prazo são devidamente estudados, para obter as melhores facilidades e preços. Ainda estão na lista de melhoramentos obtidos com a organização do trabalho a aquisição de um trator, a busca por um melhoramento genético e o uso de planilhas para acompanhar tudo na ponta do lápis.

Decisão pelo campo
O agricultor Gerson Poth, 30 anos, experimentou trabalhar “na cidade”, porém a sua vontade de permanecer no campo foi maior. Antes de decidir definitivamente que queria investir em uma propriedade rural com sua família, ele trabalhou em uma granja e de motorista de caminhão. “Decidi ficar por uma opção minha”, contou ele. Gerson é casado com Carla Alerth Poth, com quem tem dois filhos. A família da esposa também possui propriedade rural, o que facilitou a decisão do casal em permanecer na agricultura.
Na produção de leite, eles ainda mantêm uma sociedade com a família de Carla. Porém, segundo ele, mais adiante pretende produzir de forma independente. “Além de toda a família de Carla, a minha irmã também permanece no campo”, contou ele. Gerações que pretendem dar seguimento ao trabalho dos pais no campo, da mesma forma que muitos filhos dão seguimento a empresas dos pais na cidade.

Para tanto, são necessários mais do que investimentos. Os agricultores que querem trilhar um caminho de sucesso, da mesma forma que aqueles que optarem por trabalhar em industrias e empresas, devem desenvolver o espírito empreendedor e buscar as ferramentas necessárias, para que isso aconteça de fato. E, foi isso que Gerson fez, através da especialização na agricultura, profissão que pretende seguir.

Com muito conhecimento e informação em mãos, os projetos que estavam sendo elaborados no papel, estão sendo efetivamente construídos. Gerson pretende investir essencialmente em dois segmentos: na produção de leite e de suínos. A construção de um chiqueiro para os suínos está em andamento há cerca de um mês. Par contribuir com o ganho da propriedade, ele também investiu em ovelhas.

Tudo isto esta sendo possível, segundo ele, devido aos ensinamentos que aprendeu no curso do PER que participou, no qual conseguiu planejar para poder pagar os investimentos. “Conseguimos ter mais visão da propriedade e de como aproveitar os recursos que possuímos. A diversificação que podemos implantar na propriedade foi um dos pontos fortes que aprendemos no curso, conseguir fazer projetos e poder administrar o nosso negócio da melhor forma”, revelou.

Além do curso junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia, Gerson participou de outras qualificações que foram oferecidas, inclusive, pela Emater. “Tudo isso está valendo a pena”, destacou Gerson. Outro bem adquirido para incrementar sua propriedade rural foi um trator. Com os resultados positivos, a vontade de família é continuar investindo e permanecer no campo.

Diversidade
Os agricultores Inácio e Cléria têm orgulho de falar, que o filho Jairo Augusto Poth, 20 anos, sempre teve vontade de permanecer na agricultura. A família que possui uma propriedade rural em Linha Paissandu, interior de Teutônia, está deixando o trabalho a cargo de Jairo. “Quando ele era mais novo cuidava da vaquinha de leite”, contou a mãe. Ao contrário da irmã, que apesar de continuar morando no interior, resolveu trabalhar na cidade, o jovem está determinado a seguir nesta profissão. Contudo, a decisão de permanecer no campo, não o impediu de buscar conhecimento sobre a profissão pela qual optou seguir, afinal ele tem uma “empresa” própria para cuidar.

Jairo integrou o grupo do PER e, além do reforço com informação, colocou a mão na massa e também está investindo em um futuro na agricultura. “Foi muito importante ter participado do PER, pois apreendemos muitas coisas que podemos aplicar no dia-a-dia. Como por exemplo, a limpeza após a ordenha, que achávamos que poderia trazer doenças para a vaca”, explicou ele. Muitas outras coisas também acabaram sendo modificadas, em razão deste aprendizado, como modificações no manejo das vacas, inseminação e na criação de terneiras. Além deste curso, da mesma forma que os demais, ele também participou de outros seminários e cursos.
A família já possuía um aviário, além de produzir uma pequena quantidade de leite. No início do ano passado, decidiram encaminhar o financiamento para a construção de mais um aviário. Uma vontade muitas vezes demonstrada por Jairo, que agora é realidade. “Na metade do curso tivemos que realizar um projeto, então dei andamento a construção do aviário”, complementou ele. O agricultor acrescentou que, devido ao tamanho da propriedade, não existe a possibilidade de investir na produção de leite. Por isso, a opção pela criação de frangos.

No segundo espaço para a criação dos animais foi investido em tecnologias, que tem auxiliado na agilidade dos serviços, conseqüentemente permitindo que se consiga manter os dois aviários. O modelo novo conta com um sistema de distribuição de ração e água automática. Enquanto que no outro, ainda é necessário fazer todo o processo manualmente. O primeiro lote do novo empreendimento foi vendido em outubro do ano passado.

Com tudo isso, já que a vontade é permanecer no campo, a partir de agora é seguir com o trabalho para que o investimento dê o retorno esperado. “Tenho que ter compromisso com aquilo que conquistei, não adianta investir e não cuidar”, enfatizou o agricultor. O importante é que ele conta com uma ajuda muito especial para dar seguimento a "empresa", que são os seus pais.

Em muitas destas conquistas a família contou com ajudas especiais. Parcerias que auxiliaram, não somente repassando informações, mas prestando serviços essenciais. Entre as principais estão o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a Emater e a prefeitura de Teutônia.

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